sábado, 29 de outubro de 2011

Aíto Garcia Reneses em Clinic na Póvoa de Varzim (1)

"Os clássicos não são clássicos por serem antigos. São clássicos por terem classe"
Maestro Fernando Lopes Graça

Hoje vi Aíto Garcia Reneses num clinic na Póvoa. O tema foi o ensino da defesa individual em todo o campo. Foi simples e eficaz. Mostrou as soluções que usa e em que acredita e fundamentou-as. Começar com as pedras básicas da fundação da defesa, o querer defender, o querer melhorar, construindo passo a passo os seus fundamentos: da posição defensiva e dos deslocamentos defensivos ao 5X5, passando pelo 1X1, 2X2 e 3X3. Treinar sobretudo de modo fraccionado pois é aí, sobretudo, que se consegue ensinar e corrigir. No ensino foi rigoroso com as exigências explicitadas como foi o caso de não permitir nesta fase de ensino as trocas defensivas perante os bloqueios.
Como todos os bons treinadores demonstrou saber ensinar e tanto ensinou os jogadores em campo como os companheiros treinadores na bancada. Enquadrou o que fazia no tempo, assinalando que a "sessão" que estavamos a presenciar tinha conteúdo para meses e que o ritmo utilizado diferia do ritmo de uma sessão de treino normal. Alertou desse modo para que não cometessemos o pecado da pressa.
No início disse desde logo coisas muito importantes, a sublinhar: o ataque só se torna mais forte com uma defesa mais forte e que o ataque faz coisas perante uma defesa fraca que perante uma defesa forte não consegue fazer; sem técnica não se pode meter grande táctica; só defendendo bem se pode atacar melhor; há que avançar pouco a pouco e ao ritmo dos jogadores. Na maior parte destes conceitos está expressa aquilo que os treinadores franceses da escola dialéctica de meados do século XX (como eu lhes chamo por aplicarem o método dialéctico na sua praxis) denominaram de relação de forças, fenómeno inalienável dos jogos colectivos e que muitos não conhecem, esquecem ou metem em parênteses. Mesmo quando trabalhava o 1X0 solicitava aos jogadores que suposessem a existência de um atacante.
Uma das coisas que disse no fim da sua intervenção foi que há 30 anos, aprendeu do célebre treinador Dean Smith, um tipo de defesa, que agora voltou a repescar com sucesso. Uma das razões para esse sucesso foi a de que os ataques de agora já tinham desaprendido de atacar essa mesma defesa. A mim veio-me ao espírito a diferença entre uma moda e um clássico: as modas passam, os clássicos permanecem.
Pessoalmente exalou uma aura de simplicidade no trato. Num momento de esquecimento ao intervir perante um jogador, não "inventou" nem tentou disfarçar-se de infalível. Fez seguir o "show" e retomou-o mais adiante.
Eu não conhecia Aito pessoalmente. No fim de assistir à intervenção de Aíto fiquei a admirá-lo como uma referência.

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