domingo, 30 de outubro de 2011

Mário Gomes no Clinic da Póvoa de Varzim

Mário Gomes, elemento da equipa técnica nacional que levou a nossa equipa ao europeu da Lituania teve uma intervenção no clinic da Póvoa de que gostei muito. Em tom de súmula, publico aqui algumas das suas frases e/ou ideias já que nem sempre retive todas as suas palavras. Espero não trair o seu pensamento.
"As primeiras coisas primeiro".
"Treinador não se deve remeter às quatro linhas", Aí está a sua intervenção política sobre o basquetebol, no sentido nobre da palavra.
"Os treinadores devem ter uma palavra sobre as decisões do nosso basquetebol".
"É preciso motivar os dirigentes, além dos jogadores, em torno de objectivos".
"As nossas selecções jovens mostram trabalho bem feito"
"Quantidade e qualidade da competição não é substituível pelo treino".
"O problema do nosso basquetebol não é morfológico, como se fala há 5 décadas".
"Ao contrário do que se diz o problema não está nos hábitos ou atitudes dos jogadores que nesses aspectos foram do melhor."
"Nos contactos internacionais a equipa nacional tem um problema natural de consistência devido à fraca participação nesses mesmos confrontos em comparação com as equipas que defronta. Isso só se resolve com mais contactos internacionais nas selecções mas também nos clubes. Mais uma vez os treinadores deveriam ter voz nessa questão."
Mário Gomes deixou algumas questões no ar:
Porque é que temos dificuldades sobretudo nas fases do ataque?
"Temos problemas no contra-ataque. Estamos melhor no 5X5 do que no 2X1 e isso não é normal. Será que se está a trabalhar na formação contra-ataque?
Mário Gomes citou uma frase de Mário Palma, seleccionador nacional, segundo o qual, "o contra-ataque não é correr, saltar e lançar, mas sim correr, pensar, saltar e lançar."
Porque é que, nas selecções jovens, o lançamento exterior é muito mais um argumento do feminino do que no masculino?
Os lançamentos que a selecção faz, mesmo sem serem forçados mas bem seleccionados padecem de percentagens fracas. Porquê?
Há problemas de continuidade no ataque quando os set play não dão em lançamento.
A bola é muito tempo retida pelo possuídor havendo problemas de velocidade de circulação de bola no ataque. "Quando não há solução imediata a bola deve circular."
"Há muitas crenças erradas sobre o modelo de jogo". A começar pelo que é um modelo de jogo.
"Quando os jogadores chegam aos 18 anos põe-se o problema do que fazer com eles. A formação não terminou e é preciso criar soluções como por exemplo a Espanha criou. Deveriam ter competição de qualidade e treinar mais e melhor o que não acontece actualmente."
Mário Gomes revelou também uma frase de Aíto no jantar do primeiro dia: "Há sempre um momento em que cedemos - os treinadores - e de que depois nos arrependemos."
"O treinador não deve abdicar nunca da sua cultura de treinador."
Mais uma vez precavendo o leitor para o facto de algumas das frases que lhe trouxe aqui poderem não corresponder exactamente ao dito por Mário Gomes devido à dificuldade de transcrição do discurso, guardo para o final uma frase emblemática que, essa sim, memorizei bem:
"Os desistentes nunca vencem. Os vencedores nunca desistem".

2 comentários:

  1. Devo dizer Henrique que para mim o domingo de manhã valeu pelo Mário Gomes.
    Excedeu em muito o que eu esperava .
    Trouxe para a preleção algo que devia em si só ser tema de acções de formação e abordado com seriedade nos cursos de treinador: O treinador não pode intervir só no que se passa dentro do campo de basquetebol.
    Ele falou no caso dos seniores e nos profissionais mas acho ainda mais verdade para a formação porque "no campo joga-se muito mais que basquetebol".
    No entanto é minha convicção que a maioria dos treinadores de formação não estão preparados para isso nem isso lhes é exigido por quem os contrata, pedindo-se sobretudo resultados ao nível das vitórias e derrotas no campo.
    Acho que de uma vez por todas a ENB devia dizer se defende que o basquetebol, até uma determinada idade, deve ser também um instrumento educacional ou apenas virado para a competição e mesmo na competição se é feito para que os adultos compitam através das crianças e jovens ou se "o jogo é deles".

    Um abraço

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  2. em primeiro lugar concordamos em absoluto sobre a importância e interesse do que o Mário Gomes disse. Deveria ser tema de reflexão e debate entre os treinadores, a começar na sua formação.
    Quanto à questão que levantas é efectivamente muito pertinente. Há uma efectiva contradição entre o que deveria ser e o que é, no desporto de formação: a competição é inalienável do desporto, mesmo do que se realiza aos níveis da formação. Só que aí, a competição deveria estar ao serviço, em primeiro lugar, da formação dos próprios atletas, para que no fim da mesma (que na verdade nunca acaba completamente) se possa exprimir na plenitude, em busca dos melhores resultados. O jogo é jogado pelos jogadores e quando os treinadores não percebem isso e fazem dos seus jogadores meras peças de tabuleiro, estão a proceder muito mal, masmo ao mais alto nível. E isso faz-se com consequências funestas, mesmo para os resultados. Quando os jogadores não são capazes de pensar em autonomia, tomar decisões e afirmar a sua personalidade, quando chegam aqueles momentos decisivos dos jogos, esses jogadores e equipas fraquejam. No que respeita às crianças e jovens, então isso deveria ser ainda mais verdade. Em França, houve até um conjunto de professores/treinadores que em vez do desporto para as crianças, entenderam que era preciso conceber o "desporto das crianças".

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